Treinando a compreensão oral – o walkie-talkie

walkie-talkie-2

O tema de hoje surgiu de uma conversa na biblioteca do Goethe-Zentrum Brasília, com a nossa querida Aninha (ela entende de tudo de livros e cuida super bem da nossa biblioteca!). Ela me contou que vários alunos procuravam as transcrições de áudio do livro didático, mas não sabiam onde encontrar.

Fiquei curiosa, mostrei onde estavam (todo site de livro didático tem a aba do professor, lá vocês sempre encontram as transcrições do áudio), mas perguntei o que os alunos queriam fazer com isso…. Ela me disse que era pra treinar a compreensão dos áudios. Milhares de alunos pediam esse material pra ela todos os anos e ela não entendia porque os professores não disponibilizavam isso. Esses professores, tsc., tsc…

Se você é desses que achava que essa era a melhor forma de aprimorar a compreensão oral, infelizmente vou ter que discordar em grande parte. Não posso falar por todos os professores, mas vou explicar porque eu não estimulo meus alunos a fazerem isso.

Vários estudantes de alemão padecem com os áudios ou ao encontrar um alemão in loco. Por vezes tem barulho demais na gravação (isso é feito com um propósito, mas voltamos a isso mais tarde), ou as pessoas falam alto demais, com um certo sotaque estranho, ou elas usam várias palavras que você desconhece e fica achando que não está entendendo nada.

Aí você acha que tendo o texto escrito você vai poder entender tudo o que está sendo dito, e assim vai arrasar na próxima prova. Sim e não. Por quê?

Com as transcrições você pode melhorar seu vocabulário, ver as expressões mais usadas, tirar dúvidas sobre pronúncia (porque lendo e ouvindo às vezes facilita), é um bom treino, mas você não necessariamente vai saber se virar melhor nos treinos de áudio ou conversando com um alemão.

A metáfora do walkie-talkie

Um estudante de línguas estrangeiras é como um receptor de brinquedo daquele tipo walkie-talkie. Não sei se esse aparelho caiu em desuso, mas era como um nextel com péssima recepção. A pessoa fala de um lado, você escuta umas palavras no meio de muito chiado e tenta depreender o sentido. Quando ela fala “câmbio” terminou o assunto daquela chamada.

minionsNo nível iniciante, os alunos têm um walkie-talkie cheio de chiado, ou seja, capturam uma palavra aqui e ali e são capazes de dizer do que se trata a conversa mais ou menos e qual a opinião geral das pessoas. Os detalhes, as piadas e muitas nuances são apenas “chiados” na conversa.

Já com os alunos do nível intermediário, o aparelho melhora – agora é possível acompanhar mais a discussão, ficar impressionado com os termos que as pessoas usam para falar algo (mas não necessariamente elas saberiam reproduzir isso). Já é possível discutir alguns temas fora do comum, e mesmo assim entender.

No nível avançado, o chiado já é quase irreconhecível, o aluno e capaz de acompanhar mais as discussões, surgem algumas dúvidas, mas as coisas já são mais claras.

Esse chiado do walkie-talkie faz parte do desenvolvimento do aluno, o chiado corresponde ao que ele ainda não entende, não aprendeu ou não registrou. Porque não controlamos o que os outros nos dizem ou como nos dizem algo, muitas vezes nossas conversas vêm repletas desses “chiados”. Compreendemos, no entanto, apesar disso. O mais importante da compreensão oral é ser capaz de ouvir palavras-chaves, acalmar o coração, usar o bom senso e todo seu “Weltwissen” (palavra linda, né?!) Tentando depreender as informações mais importantes que estão sendo transmitidas. É por isso que não acredito que as transcrições ajudam tanto, elas podem até atrapalhar. O aluno que acha que só vai entender o alemão na hora que compreender palavra por palavra, se atrapalha na conversa. Porque na vida real tem cachorro latindo, sotaque, ônibus, gente que fala rápido e não tem script. E aí eu volto a minha teoria de amaciar os ouvidos, se acostumar com a língua, tirar um pouco da tensão e se divertir mais.

Nos livros de exercícios sempre tem exercícios de áudio, na internet há um mundo… estudar vocabulário também ajuda…

Fica a dica. Achou útil? Tem uma ideia para um texto?  Manda pra gente!

Bis bald! 🙂