Diário de Viagem e Estudos em Munique II
Temperaturas negativas, mas coração aquecido: Experiência com mercados de Natal e mesas compartilhadas na Alemanha
Faça chuva, faça sol, faça neve, faça o frio que for, os alemães não deixam de lotar as feiras de Natal (Weihnachtsmarkt). Tradicionalmente, esses mercados natalinos se instalam em ruas, praças e outros locais públicos e começam a funcionar em dezembro. No entanto, desde o dia em que cheguei a Munique, na última semana de novembro, já pude aproveitar a diversidade oferecida por essas barraquinhas.
Linguiça, batata frita, sopa, crepe, salmão defumado, Reiberdatschi (panqueca de batata), frutas envoltas por chocolate e bolos são apenas algumas das opções culinárias. Para beber, vinho quente (Glühwein, parecido com o nosso quentão), cerveja, chocolate quente, gemada (Eierpunsch) aparecem no cardápio. Velas, ornamentos natalinos, santos, artesanatos variados também compõe a oferta das lojinhas.
Em Munique, a feira de Natal mais popular é a da Marienplatz, mas há muitas outras espalhadas pela cidade. O mais cativante nesse tipo de mercado a céu aberto, que é quase uma exposição e funciona de tarde e de noite, não é nem a grande variedade e a qualidade dos produtos; mas, sim, o que eles acabam provocando entre as pessoas. Ir a um mercadinho natalino é a ocasião perfeita para conseguir se aquecer e afastar o frio (tanto o climático quanto o sentimental), que se instala no outono e no inverno.
Enquanto se bebe algo quentinho e se coloca o papo em dia com um amigo, mesmo em temperaturas negativas, a sensação é de sair dali com o coração aquecido. Até quem for desacompanhado pode se sentir assim: muita gente também frequenta o mercado de Natal sozinha e, na hora de lanchar ou beber um Glühwein, todo mundo se aperta para aproveitar as mesinhas altas instaladas por ali. Em algumas, há até fogueira para esquentar.
Quem não tiver companhia consegue muito bem puxar assunto com alguém que também esteja por ali, engatar uma conversa, quem sabe até fazer um amigo e deixar a feira de Natal com um sorriso no rosto. Aliás, esse costume de compartilhar a mesa com desconhecidos também é comum em outros ambientes, como praças de alimentação de shoppings e cervejarias.
Mesas Compartilhadas
Se você vir uma mesa com alguns lugares vazios, pode perguntar se pode se sentar ali (na maioria das vezes, a resposta será positiva; a não ser que a pessoa realmente esteja esperando alguém). E não precisa se sentir intimidado. Os alemães, à primeira vista, são mais sérios e fechados que os brasileiros. Mas eles podem ser tão cheios de sentimento quanto. Nesta última semana, aproveitei para visitar a tradicional (e praticamente parada obrigatória para turistas) cervejaria Hofbräuhaus em Munique.
Eu e uma sul-africana, colega de curso do Goethe-Institut, fomos para lá após almoçar num mercado de Natal. O salão estava lotado e, assim que vimos que um grupo começava a se levantar da mesa, perguntamos se poderíamos nos sentar com o senhor que estava ficando ali. Resposta positiva, nos instalamos e, em alguns minutos de papo, acabamos conhecendo muito sobre ele.
O alemão nos contou que havia ficado viúvo há alguns anos e, agora, estava realizando um pedido da falecida esposa: viajar pelo mundo. Depois de rodar pela Europa, pela América do Norte e pela América do Sul, estava de volta à Alemanha para ver a família antes de viajar novamente. Pelo celular, nos mostrou fotos de sua única netinha. Ao contar a própria história de vida entre um gole de cerveja e outro, deixou escapar muitos sentimentos no olhar, em risadas e em lágrimas.
Também conversamos com um casal de Frankfurt que sentou na nossa mesa pouco depois. Tudo isso é muito normal por ali. Basta que você também esteja disposto a conversar. Se você não estiver a fim, também não tem problema: as pessoas o deixarão em paz. Mas tudo isso é só para desmistificar o estereótipo do alemão mal-humorado e bravo.
Pelo contrário: as pessoas que conheci por aqui têm muito senso de humor e gostam de conversar. E você não precisa falar alemão perfeitamente para conseguir esse tipo de contato: em geral, os moradores apreciam o seu esforço de (tentar) falar a língua deles, em vez de apelar logo para o inglês. Então, se visitar Munique ou fizer um curso por aqui, aproveite a oportunidade de treinar o idioma assim.
Em Sala de Aula
Falando em aprimorar a língua, claro que, além de conversas, frequentar um curso de qualidade faz toda a diferença. A experiência como aluna do Goethe-Institut de Munique tem sido muito positiva. Na minha turma, tenho colegas da Itália, Croácia, Grécia, África do Sul, Espanha, França e Coreia do Sul. Além de ser a única brasileira do grupo, sou uma das únicas que não mora nem trabalha na Alemanha.
Esse contato com pessoas de culturas tão diferentes que têm algo em comum (a experiência alemã) é bastante enriquecedor. Conheci professoras muito competentes no Goethe-Institut de Munique: tanto a oficial da turma quanto a substituta que veio enquanto a outra estava num congresso conseguem tornar o aprendizado algo dinâmico e inovador. O instituto oferece um plantão de dúvidas individual com horário marcado.
O serviço é bastante disputado e é ótimo para perguntar sobre determinado assunto ou apenas praticar alemão. Cada sessão dura 20 minutos e cada aluno pode frequentar até duas vezes por semana. Para estudar, a escola oferece uma mediateca, em que é possível “alugar” livros, revistas, DVDs. O espaço conta ainda com cantina, uma sala de descontração e um time de funcionários muito solícito.
Claro que fazer um curso de alemão na Alemanha é maravilhoso e muito diferente, pois o contato com o idioma é bem mais intenso e não termina quando a aula acaba, estendendo-se por todas as conversas ao longo do dia. Mas posso me orgulhar de dizer que nos quesitos estrutura, ensino e qualidade dos professores e dos funcionários, o Goethe-Zentrum de Brasília, onde estudo, não fica atrás.